Manter a calma sempre, meditar e atingir o Nirvana, estar sempre disponível, alegre e bem-disposta, irradiar luz. Ser aquilo que quiser ser em todos os momentos, são recomendações e sugestões que ouvimos diariamente e que nos fazem sentir imperfeitos e desajustados.

 

Frequentamos centros Zen, fazemos uma alimentação saatvica, praticamos yoga, lemos sobre inteligência emocional, frequentamos cursos de desenvolvimento pessoal, fazemos retiros e depois… depois voltamos ao mesmo trabalho, à mesma família, aos mesmos desafios e sentimos um choque, uma angústia, uma vontade de não estar ali.

 

A realidade é demasiado dura, pouco evoluída, os outros são pouco desenvolvidos e aos nossos olhos, que fazemos tudo para atingir um estado de permanente felicidade, parece-nos que o mundo está desadequado e sentimo-nos impotentes para mudar tanto mundo.

 

A verdade é que o mundo é o que é, as coisas são o que são, e a escolha de nos desenvolvermos é pessoal e intransmissível. Então, como é possível que algumas pessoas vivam em paz consigo se o mundo é o mesmo?

 

Há sempre boas desculpas para justificar a aparente boa vida dos outros e falta dela em nós: tivemos uns pais que não nos orientaram, os nossos filhos são muito agitados, o nosso chefe não percebe nada de liderança e mesmo os empregados das lojas e dos restaurantes da nossa zona não são tão simpáticos como aqueles que vemos atender as pessoas que parecem ter imensa sorte.

 

Então, o que falta?

 

O que falta é olharmos para nós, para dentro, para o fundo e, de forma amorosa e compassiva, aceitarmo-nos tal qual somos hoje. Depois, sem julgamento (porque as coisas são o que são) e sem criação de expectativas, podemos observar e sentir verdadeiramente o que está a acontecer, como estamos a orientar as nossas vidas, como nos relacionamos connosco e com os outros e, a partir desse ponto, definir intenções. Pequenas a princípio, como se de um treino se tratasse.

 

Intencionamos sobre o que queremos que aconteça dentro de nós e não fora de nós. Intencionamos para nós sobre a mudança que queremos ver no mundo.

 

Se eu quero que haja harmonia, posso-me perguntar sobre o que posso fazer agora que promova harmonia em mim. Se eu quero sentir-me segura, posso perguntar-me sobre o que posso fazer agora que possa ajudar-me a sentir um pouco mais segura. Se eu sinto falta de amor, posso perguntar como posso ser mais amorosa comigo, e assim por diante. Todos estes treinos, todas estas mudanças, ao transformarem o que existe dentro, nos levam a, por podermos ter uma zona de conforto dentro de nós, conviver melhor com o que existe cá fora, que é o que é.

2018-04-03T09:16:13+00:00