Antes de ser mãe, eu, era a melhor mãe do mundo! Sabia exactamente o que fazer, o que não fazer e onde introduzir novidade e espaço para melhoria contínua e desenvolvimento.

As Barbies, o esterótipo reprovável do não feminismo, da desigualdade de género, de um conceito de beleza enviesado e que remetia para o exterior e que não referia só por si, nada sobre o interior, não existiriam na minha casa.
Os carros seriam brinquedos tanto de meninos, como de meninas. Comigo não tinha corrido mal… os meus brinquedos preferidos eram carros, comboios, construções Mekano, Lego, embora tivesse também bonecas e às vezes brincasse com elas.

Toda a orientação, conselho, reparo, sugestão seria verbalizada de forma tranquila, amorosa, clara e lógica aos meus filhos com a garantia de que, ao serem entregues num pacote de amor, seriam recebidos com alegria, imediatamente acolhidos e seguidos.
Cantaríamos muito e dançaríamos. A nossa vida doméstica seria principalmente um fluir tranquilo e oleado de situações que se sucederiam numa cadência tranquila e harmoniosa.

Doces? Só em dia de festa, caso quisessem muito! No entanto, estava certa de que, tendo em conta a forma elucidativa, estruturada e simplificada com que eu iria transmitir a mensagem de que o “açúcar faz mal à saúde”, provavelmente, seriam os meus filhos a dizerem “NUNCA!” ao açúcar.

Todos do Sporting! Não havia como falhar. O treino, por excelência, para a resiliência, estava garantido.
Vegetarianos, todos! Cá em casa, só ervinhas, grãozinhos, cereaiszinhos e mais umas ceninhas vegetarianas, tendencialmente veganas. A publicidade e marketing internos já programados. O alinhamento, a congruência familiar, tudo para garantir que seria sempre uma zona verde!

Depois fui mãe!…

A primeira, das várias (muitas), Barbies que a minha filha teve, foi comprada à pressa, por mim em desespero, por a ver tão triste por ser a única menina num colégio inteiro que não tinha essa preciosidade em casa… Garanti que a história da Bela e o Monstro fosse contada dezenas, centenas de vezes para compensar o efeito do estereótipo… acabando por insistir num, mas ao contrário 😉

Os meus filhos, para o bem e para o mal, tinham em casa mais brinquedos que algumas lojas, de todos os tipos possíveis e imaginários pois os meus primos, tios (só a minha mãe tinha 10 irmãos…), amigos, avós e nós pais encarregámo-nos de fazer o impensável… fornecer uma marquise grande, transformada em sala de brinquedos, de toda a sorte de bonecos e bonecas, carros, carrinhas, barcos e furgonetas, triciclos e bicicletas, peluches e almofadas, jogos e etc. etc…. etc… e, para grande surpresa minha… os meninos brincavam com “brinquedos ditos de menino” e a menina com brinquedos “ditos de menina”.

Quando nasceram foram todos vestidos com o mesmo fatinho verde alface, nada de azul para meninos, nem rosa para meninas. Verdinho Alface para todos! Os meus filhos iam ser modernos, livres de estereótipos de género!

Depois veio a realidade das preferências pessoais e intransmissíveis… durante muitos anos a minha filha só vestiu cor-de-rosa em versão multi-camada, misturando roupa de verão com roupa de inverno em versões vanguardistas, para meu gáudio! Os rapazes também alinharam no cor-de-rosa… yeeeee!

Quando agora penso no que imaginava que seria a minha maternidade, a minha família, dá-me vontade de rir, tanta criação de expectativas, tanto julgamento e tão pouca liberdade implícita num modelo que acreditava primar pela liberdade. Neste modelo que criara na minha cabeça e que era perfeito, tinha-me esquecido de algo tão simples como: filhos são gente pensante e que faz escolhas, umas vezes tal qual como nós faríamos, outras, nem por isso.

No meio desta diversidade de escolhas e preferências que faz de nós uma família, com uma identidade própria, somos afinal, total e, simplesmente, mais uma família normal.

2018-04-30T22:43:11+00:00